segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

RES: ENC: MATERIA E.M - Quem manda é o público

Aii Marcelo, essa doeu. . Eu não sabia que minhas idéias eram tão antigas. Nunca fui a Londres. Brincadeiras a parte, acho que podemos trocar mais. A gente quer vc do nosso lado, com suas idéias. É óbvio que vc usou uma analogia para  apontar uma lacuna que estávamos rodeando há muitos anos e que nunca ficou clara. Sim, a questão é a relação com o público, como incitá-los a ir ao teatro. Mas mesmo uma comparação com proporções guardadas, nos leva a refletir sobre os processos.

Sabemos que algo produzido em série requer muito mais capital (inicial e de giro) que algo artesanal como teatro. Nós montamos uma peça com 100.000. Um filme de baixo orçamento custa 1 milhão. E Olha que esse filme de baixo orçamento, no Brasil é conquistado pelos produtores a cada 3 ou 4 anos (média de produção de longas por produtoras que recorrem  à lei de Audiovisual). Se colocarmos um salário razoável para um ator de teatro em uma planílha de lei de incentivo e somos aprovados, logo pedem a readequação, porque nunca aprovam o que vc pede. Sei que vc deve estar pensando, sim, a  culpa é dos produtores que fazem esta readequação e diminuem o salário de todos, a começar dos atores. É verdade. Alguém começou errado e não conseguimos ainda sair do ciclo vicioso OS-ARTISTAS-FAZEM-COM-POUCO-VAMOS-DAR-POUCO.

E esse fenômeno não acontece só com artistas de teatro. O mesmo ocorre com o cinema. Aqui em BH mesmo, temos um ótimo exemplo disso. Cineastas competentíssimos como os da Produtora TEIA, fazem filmes com orçamentos mais baixos ainda que o dito baixo orçamento de 1 milhão. E ganham prêmios nos melhores festivais do Brasil e circulam pelos mais importantes festivais do mundo. Eles estão errados? Não. Se não conseguem mais dinheiro vão deixar de criar e produzir? Não, ainda bem que não! Mas aí vc vai ver o que o prêmio Filme Minas da SEC oferece. Pra que oferecer mais se é possível fazer coisas boas com pouco. E nem chegamos na questão da distribuição.

 A melhor peça, para o meu gosto pessoal dos últimos 3 anos em BH, "Aqueles Dois" foi feita sem patrocínio, ou salário algum para os atores/diretores/criadores. E aí a coisa toda se vira contra nós mesmos. Digo a coisa política. Porque vamos esbarrar nisso para chegar ao marketing.

Sim, mas voltemos ao marketing. Nunca lançamos mão deste instrumento.  Geralmente produzimos nosso próprio espetáculo. Tanto a produção executiva, quanto fazemos a Direção de produção, para usarmos termos que definem melhor as funções. E fazemos isso porque não tem profissionais no mercado. Também pudera, paga-se mal. As empresas pedem um plano de marketing quando entramos em concorrências de Petrobras, Caixa, Correios etc...
Mas não estamos preparados para isso nem intelectualmente, nem estruturalmente. Associamos o marketing diretamente a mídia. Eles estão ligados? Sim. Mas um não é a outra.
Creio que a lebre que vc levantou é importantíssima e que hoje, no cenário mineiro, com exceção, talvez do Galpão e do Corpo, não haja um profissional que trabalhe com essa ferramenta no teatro. Acho que o melhor lugar para discutirmos e vislumbrarmos uma solução seja mesmo o SINPARC, com sua experiência na Campanha, que é sem dúvida o maior evento em anos consecutivos da capital. Será que o marketing do SINPARC  é inconsciente? Acho também que se nos unirmos com representatividade, podemos solicitar uma qualificação neste sentido.

Quanto ao poder dos jornalistas de escolherem o que vão divulgar por acharem que sabem o que é melhor para o público, creio que esse poder deve ser usado de forma mais proveitosa e em todos os âmbitos, como vc faz.

Um abraço e espero tê-lo como debatedor em um encontro com a nossa classe. Digo nossa, porque prefiro vê-lo como um homem de teatro que escreve em um jornal.

Ana Regis

 

De: Marcelo Castilho Avellar [mailto:marceloavellar.mg@diariosassociados.com.br]
Enviada em: segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011 17:11
Para: alexandre.toledo@caixa.gov.br; acregis@terra.com.br
Cc: ciadafarsa@googlegroups.com; artistasdebelohorizonte@googlegroups.com
Assunto: Re: ENC: MATERIA E.M - Quem manda é o público

 

Ana,

 

o engraçado nas suas considerações é que elas são extremamente semelhantes às que foram feitas nos anos 80, nos Estados Unidos, sobre os riscos que a Cinemark estaria correndo com suas estratégias enlouquecidas de programação. as soluções dadas estavam todas ligadas a investimento.

 

atualmente, os cinemas que têm publicação propria com seus horários a produzem em edições semanais. aqui mesmo em belo horizonte tivemos um complexo que fazia isso, e nem era dos maiores ou mais ricos, o Usina. custava caro? sim. mas compensava. nós mesmos inventamos uma solução semelhante ao longo tempo, que me lembra a resposta que correios deram no passado para confrontar problemas de custos: material com espaço em branco, de modo que pode ser afixado nele qualquer alteração, e o impresso contendo a alteração é mais barato que o impresso principal.

 

sobre a imprensa. volto a dizer que os cinemas da cinemark são um pesadelo para os responsáveis pelos roteiros de cinema. não importa. são publicados. aliás, os erros saem, com mais frequencia, porque a empresa altera horários sem comunicar a imprensa que por falhas dos responsaveis. falo de primeira mão - sou responsavel pelo roteiro de cinema do "estado de minas" pelo menos umas 45 semanas a cada ano.

 

se os jornais consideram o roteiro de cinema mais importante - e o publicam maior e com mais informações que o de teatro - é outra questão a ser debatida. e não tem nada a ver com estratégias de programação, mas com estratégias de marketing. é muito fácil concluir que isso é falha exclusiva dos jornais. toda questão relacional tem falhas relacionais. nessa, especificamente, que é uma relação triangular - jornal, produção, espectador - eu me pergunto até que ponto os produtores culturais não sabem motivar a imprensa. e não sabem motivar seus próprios clientes em potencial. é simplório dizer que um jornal tem obrigação de divulgar isso ou aquilo. ele tem obrigações com seus leitores, o que implica, entre outras coisas, em selecionar o que considera mais ou menos importante para eles - o que lhe vai ser mais útil, o que ele vai gostar mais, há inúmeros critérios possíveis, a serem praticados publicação por publicação, mas todos devem ser voltados para o bem-estar do leitor, e não o do produtor cultural, do patrocinador, do gestor público de cultura. em última instância, se a maioria dos jornais dá pouca importância ao teatro, é porque a comunidade dá pouca importância ao teatro. e só reverteremos esse processo se formos capazes de mexer com o imaginário das pessoas, fazê-las sentir que precisam do teatro - exatamente o que a cinemark fez quando adotou suas estratégias.

 

sobre valor alto de aluguel: se informe sobre o que as empresas de cinema pagam aos shopping centers por seus multiplex. informe-se, também, sobre os custos altíssimos de operação de um cinema. é exatamente por causa deles que estratégias ousadas se tornaram necessárias. entre os anos 70 e 80, os cinemas simplesmente não conseguiam sustentar seus próprios custos. quando pensamos pequeno, frequentemente realizamos algo pequeno. quando pensamos grande, há alguma chance de realizarmos algo grande. não acho que isso vale para a arte do ponto de vista estético. mas vale para a arte como bem econômico, e é disso que estamos falando quando tratamos de mercado.

 

a ideia de aproveitar melhor os teatros é antiga. cidades como londres e nova york ainda têm lugares deliciosos onde se abrigam os restos do antigo teatro de variedades: os espetáculos começam de manhã e se estendem até o início da madrugada, alternando dança, drama, comédia, circo. mas para algo assim funcionar, precisamos de equipamento e mão de obra adequados - a alternativa é a quase proibição de cenografias mais elaboradas que existe em teatros locais quando precisam se dividir entre apenas um espetáculo para adultos e outro para crianças, ou seja a necessidade econômica começa a prejudicar seriamente a estética.

 

de qualquer maneira, é bom lembrar que novas ideias costumam encontrar resistência. é parte da vida. talvez devêssemos, quando confrontados com elas, simplesmente reverter a pergunta: estamos satisfeitos com o atual estado das coisas? se estamos, então não precisamos mudar nada. se não estamos, é hora de jogar algumas velhas ideias na lata de lixo. eu não estou. e tenho certeza de que quem estiver com 10 ou 20 gatos pingados na plateia, principalmente na metade do semestre, provavelmente também não estará.

----- Original Message -----

From: Ana Regis

Sent: Monday, February 07, 2011 1:32 PM

Subject: Re: ENC: MATERIA E.M - Quem manda é o público

 

Caros colegas,

Muito interessantes as observações do Marcelo Castilho sobre estratégias de mercado adotadas pela cinemark. Sem dúvida são pontos a serem observados. Porém temos que ressaltar que são produtos de natureza diferentes e que algumas porpostas são inviáveis para nós produtores. Ex: como fazer material gráfico com horários que mudam durante a temporada? E mais, muitas vezes, mesmo mandando release com datas e horários em CAIXA ALTA, o jornal sequer presta o serviço ao cidadão de informar o que está em cartaz na cidade, imagine se ficarmos mudando horários toda semana.

O cinemark oferece às vezes até 8 salas de cinema no mesmo lugar com programação durante todo o dia, todos os dias da semana. Nossos teatros são afastados uns dos outros e cobram um valor alto de aluguel por dia.

Mas a partir desta observação me ocorreu que uma saída poderia ser ocupar o teatro com dois ou três espetáculos por dia (quinta  a domingo) e dividir a diária, (que somando o pagamento dos 3 produtores sairia mais alta que a diária cobrada hoje de um só produtor - não sei se fui clara) e a cada semana trocar os horários de cada apresentação.

Enfim, temos sim que renovar e pensar estratégias de sobrevivência e sempre unidos, pois uma andorinha.....

Talvez esta possa ser uma pauta para o seminário de análise da Campanha!

Abraços a todos,

Ana Regis

On Seg 07/02/11 12:26 , alexandre.toledo@caixa.gov.br sent:

 

 

 

Quem manda é o público

Sucesso do teatro em Belo Horizonte durante a Campanha de Popularização pode ser mantido durante todo o ano com uso inteligente das leis de mercado


Marcello Castilho Avellar - EM Cultura

 

Imagem removida pelo remetente. Marcos Michelin/EM/D.A Press

Acredite, um espírito baixou em mim leva milhares de pessoas ao teatro desde a estreia em 1998

 

O teatro produzido em Belo Horizonte vive todo ano uma curiosa contradição. Por um lado, tem o que provavelmente é o maior evento do gênero no país: a cada temporada, entre janeiro e fevereiro, a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança leva às salas de espetáculos centenas de milhares de espectadores. Por outro lado, praticamente todos os produtores se queixam das casas vazias nos meses restantes. Para tentar compreender o problema, podemos apelar para uma palavra muito usada por boa parte dos produtores que realizam a campanha, reunidos no Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Sinparc): mercado. Como referência para o raciocínio, podemos tomar o segmento mais bem-sucedido da indústria do entretenimento, o cinema. Ou, mais especificamente, uma das empresas que transformaram a exibição cinematográfica no que é hoje, a americana Cinemark.

A Cinemark foi fundada em 1984. Em menos de 30 anos, tornou-se uma das três maiores redes de cinema do mundo (no Brasil, é a maior). Parte deste sucesso pode ser atribuída à percepção de que o público valorizaria cinemas com exibição de alta tecnologia, e ao investimento no setor. Outra parte, contudo, se deve às inovações que a empresa fez no que poderíamos chamar de tecnologia de programação – um conjunto de estratégias com o objetivo de oferecer ao espectador o máximo possível de opções, ou seja, de aumentar as chances de que ele encontre num cinema da empresa, a qualquer momento, uma opção de entretenimento. A programação da Cinemark é um inferno para os que fazem os roteiros culturais dos jornais, tal é a variedade de filmes e horários que seus cinemas oferecem. Mas, justiça seja feita, exatamente por isso, é muito eficiente em abrir possibilidades para que os espectadores assistam aos filmes apresentados. Uma análise de algumas das estratégias da Cinemark (hoje frequentemente empregadas por outros exibidores) nos mostra que elas constituem o exato oposto do que são suas análogas no mercado teatral. Vamos a alguns exemplos.

1) A mais elementar lei de mercado nos informa que os preços tendem a subir quando a procura pelos bens e serviços aumenta e a cair quando ela diminui. Os cinemas, há décadas, elevam os preços de seus ingressos nas férias. Fora delas, além de reduzir os preços, costumam estabelecer dias promocionais. Neste sentido, a Campanha de Popularização é uma verdadeira aberração: no exato momento em que o número de pessoas interessadas em assistir a espetáculos aumenta, reduzimos os preços. E depois ficamos nos perguntando por que não vão ao teatro no resto do ano: para que iriam, se sabem que verão os mesmos espetáculos, por preços mais baixos, em época com mais tempo de folga?

2) Da mesma maneira, como o público é maior nos fins de semana e feriados, os cinemas cobram, nestes dias, preços mais elevados. A maioria dos produtores teatrais ainda tem receio em fazer isso.

3) Se você for a um complexo da Cinemark, vai descobrir que os programadores tentam, a qualquer preço, impedir que haja dois filmes com horários iguais. O motivo é simples: não é bom que um filme concorra com outro. Com os horários diferentes, não preciso escolher entre um filme e outro, posso ver um depois de outro se quiser. Os teatros se canibalizam: como muitos espetáculos são apresentados no mesmo horário, um espectador a mais em um deles representa, necessariamente, um espectador a menos em outro.

4) Na mesma grade de horários, um espectador pode chegar a qualquer momento num complexo de salas de cinema que, com espera relativamente curta, terá algum filme para assistir. Corolário deste fato é que ninguém perde a viagem: se você se atrasar para uma sessão, logo depois haverá outra, ainda que de película diferente. O espectador de teatro, se decide em cima da hora ver um espetáculo, pensa duas vezes antes de sair de casa: pode chegar atrasado, ou encontrar a casa lotada, e não terá qualquer alternativa naquele momento. Por via das dúvidas, vai direto para o bar tomar uma cerveja. Produtores de teatro deveriam sentar e lotear o relógio: alguém começa espetáculo às 20h, outro às 20h15, e por aí vai.

5) De uma semana para outra, a Cinemark troca completamente todos os horários das sessões da maioria de seus filmes. A justificativa é simples. Se um espectador trabalha até as 21h, última sessão de determinada película, ele nunca poderá vê-la se o horário permanecer o mesmo. Mas, se na semana seguinte ela for exibida às 21h30, o sujeito pode se animar a pagar o ingresso. Da mesma maneira, matinês ou sessões noturnas nos fins de semana ajudam a mobilizar o público. Espetáculos, em compensação, ficam no mesmo horário dia após dia, semana após semana, mês após mês.

6) Quando chegou ao Brasil, primeira exibidora estrangeira no país, a Cinemark se preocupou com a possibilidade de ser rejeitada. Desde então, se esforça em campanhas que ajudem as pessoas a construir dela uma boa imagem. A promoção do Dia do Cinema Brasileiro ou sua participação no Festival Internacional do Cinema Infantil são bons exemplos de como conquista nossa simpatia. Os produtores de teatro acham que resolvem o problema apenas com preços populares dois meses por ano – mas o que mais fazem institucionalmente para acabar com a ideia de “vá ao teatro mas não me chame”?

São apenas alguns exemplos. O essencial é lembrar que, quando a Cinemark entrou em cena, as bilheterias estavam em decadência. As estratégias da empresa ajudaram a levantá-las. É possível que parte dos problemas dos produtores de teatro 10 meses por ano não tenha qualquer relação com estética, mas com a permanência de estratégias ultrapassadas de relacionamento com o público. O exemplo de experiências vitoriosas como a da Cinemark pode ajudar a superá-las.

 




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