quarta-feira, 2 de março de 2011

A Comunicação Não Verbal em Fausto(s!)

Fausto(s!): o que é sentido e o que está sendo sentido
Linha de acontecimentos sem forma narrativa - Goethe está lá, mas reinventado
                                                                                         Por João Valadares 
 
É inegável que no espetáculo Fausto(s!) da Preqaria Cia de Teatro algumas questões estão sendo discutidas, mas para o grupo o mais importante não é o sentido e sim o que esta sendo sentido, a percepção sensorial do espectador.  Assim como acontece na performance, há aqueles que precisam da conceituação, e para esses talvez seja imprescindível ler de antemão o texto apresentado no programa. A dramaturgia segue uma linha lógica de acontecimentos: Deus negocia e permite que Mefistófeles vá a Terra para tentar Fausto. Fausto evoca Mefistófeles e ele aparece.  Fausto sente medo, mas faz o pacto. Eles vão a um bar e Fausto se diverte. Fausto se apaixona pela imagem de Margarida. Fausto pede a Mefistófeles que à conquiste para ele. Ele o leva para a cozinha da Bruxa, onde passa por cirurgias plásticas para ficar mais jovem e bonito. Depois Mefistófeles dá a Margarida vários presentes em nome de Fausto, convence Marta, amiga de Margarida, a persuadi-la à se encontrar com Fausto. Eles jantam juntos e no dia seguinte se encontram na Floresta. Mefisto dá a Fausto um sonífero que Margarida entrega a sua Mãe, mas a dose é muito forte e ela acaba morrendo. Fausto e Margarida tem sua noite de amor e ela engravida. Margarida aborta, se perde e acaba se tornando uma prostituta. Tudo isto está lá, mas apresentado a partir de várias estéticas teatrais em uma só peça.
 
O pano de fundo que permeia todo o espetáculo está ligado à sociedade de consumo e ao culto a beleza. Um desejo incessante de querer sempre mais, uma metáfora que retiramos de Goethe "Ele(Mefistófeles) criou no meu peito um fogo vivo que me atrai para todas as imagens da beleza, assim me sinto transportado do desejo ao prazer e em pleno prazer anseio pelo desejo". Acontece que essa linha de acontecimentos não é mostrada de forma narrativa, mas em imagens cênicas e textuais ligadas a uma experimentação estética de mudança de cenários e, conseqüentemente, da perspectiva de olhar do público, que hora está sentado em formato passarela, hora em palco italiano, hora arena, hora em pé entre os atores ou, ainda se quiserem, sentados ou encostados no cenário. Curioso é que se perguntamos à uma pessoa leiga, ela é capaz de enumerar toda a linha de acontecimentos descrita à cima. Mas se fazemos a mesma pergunta à algumas pessoas de teatro, descobrimos que elas não vivem a mesma experiência, a dramaturgia lhes parece difícil. A sensação que fica é de incompreensão, de que a peça funciona como um convite para que ator e espectador ampliem seus campos de visão para além do que é visível e imediato, e que talvez essa viagem seja mais fácil para os não iniciados… Embora esse não tenha sido nunca um desejo do grupo, hoje nos parece que a dramaturgia da peça se aproxima das características daquilo que vem sendo chamado de Teatro Performativo por  Josette Ferràl ou Teatro Pós-dramático por Hans Thies Lehaman, mas essa não é uma discussão que gostaria desenvolver aqui. Basta dizer que no livro a "Análise dos Espetáculos", Patrice Pavis afirma que para refletir sobre um espetáculo deve-se "evitar a qualquer preço comparar a encenação ao texto do qual ela parece derivar. O texto não é ponto de referência indiscutível ao qual a análise deve remeter para analisar o esptáculo. Ela deve separar minuciosamente o que ela sabe do texto escrito graças a um conhecimento prévio e 'no papel', e o que ela percebe do texto impostado em cena"(pg. 192).

Podemos dizer que na maioria das vezes o ator compõe sua personagem apagando seu processo de fabricação, mas no caso de Fausto(s!) essa elaboração é parte do ato teatral. Uma escolha da encenação é valorizar as costuras do personagem e os truques do ator. A gestualidade de mãos e braços a inclinação do corpo, a forma de tirar ou colocar o casaco são os indicadores de transformação: A passagem homem/demônio, Fausto/Mefistófeles acontece aos olhos do público. Tudo isso porque Fausto é todos e ninguém, somos nós que "ansiamos o desejo no auge do prazer", que conquistamos algo e logo queremos outra coisa, queremos mais. Por isso o publico está junto, caminha junto, acompanha Fausto em sua jornada pelo desejo. Essa transformação aos olhos e ao lado do público se faz em via de fusão, entre  hesitação e confiança, à aquilo que o ator veicula, privatizando seu corpo, pegando-o emprestado, obrigando-o, de forma sutil, a uma aproximação física de quem assiste, indicando a possibilidade de uma troca de registro. Indicando que desta vez a troca não é necessariamente racional, mas está principalmente na comunicação não verbal.

 
--
PreQaria cia de teatro

 

--
Atenção:Para responder um e-mail verificar o REMETENTE ao invés de 'responder' ao grupo.
 
Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "Artistas de
Belo Horizonte" nos Grupos do Google.Para cancelar a sua inscrição neste grupo, responda no assunto ' remover '
Dúvidas? eltonmonteiros@hotmail.com - Cia da Farsa

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vida de bombeiro Recipes Informatica Humor Jokes Mensagens Curiosity Saude Video Games Car Blog Animals Diario das Mensagens Eletronica Rei Jesus News Noticias da TV Artesanato Esportes Noticias Atuais Games Pets Career Religion Recreation Business Education Autos Academics Style Television Programming Motosport Humor News The Games Home Downs World News Internet Car Design Entertaimment Celebrities 1001 Games Doctor Pets Net Downs World Enter Jesus Variedade Mensagensr Android Rub Letras Dialogue cosmetics Genexus Car net Só Humor Curiosity Gifs Medical Female American Health Madeira Designer PPS Divertidas Estate Travel Estate Writing Computer Matilde Ocultos Matilde futebolcomnoticias girassol lettheworldturn topdigitalnet Bem amado enjohnny produceideas foodasticos cronicasdoimaginario downloadsdegraca compactandoletras newcuriosidades blogdoarmario