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SETE DEVERES AUTORAIS:
{por Sacy Verniz}
"Os filhos devem meramente respeitar seus pais, mas é dever dos pais amarem seus filhos." - Aristóteles em Metafísica, Livro IX.
1.Liberdade total de edição completa da obra, seja em fragmentos ou por aparelhamentos em obras ulteriores.
Assim como um pai ou uma mãe (autores) não teriam como evitar que seus filhos fossem modificados por suas relações no mundo, um criador não pode evitar o fato de sua obra ser modificada por aqueles que a usufruem. Assim como é dever de um pai e de uma mãe criar seus filhos para o mundo, assim também com a obra e o processo autoral. Todas as ferramentas de edição e divulgação são formatadas para facilitar esta entrega irrestrita, caso você tenha dúvidas leia o contrato de privacidade de seu email.
2.Liberdade total de acesso irrestrito ao processo por parte de qualquer interessado.
Assim como uma criança não pode crescer sem o amparo social (sem severas deficiências) da comunidade, todo processo criador deve estar aberto à colaboração social (mesmo que esta aparente-se como crítica infundada). Assim como os conhecimentos de criação das crianças foi passado de toda uma geração a um pai e uma mãe, toda a história humana chega a alguém em autoria. E assim como é dever dos pais serem honestos com seus filhos e com o Estado Capital (através do consumo de cultura e burocracia), é dever do autor ser transparente em seus processos e obras (deixando transparecer suas condições psíquicas). O Ministério do Prazer da Propaganda, através da Portaria K180320111717, se incumbiu de criar uma taxa por desprazer causada por cada obra ou processo artístico, fazendo com que cada vez vejamos menos casos de desarmonias nos Templos da Arte.
3.Promulgar a Ditadura da Arte (estado nem sacro, nem laico) como futuro do Capitalismo.
Assim como pais e mães são obrigados a colocar seus filhos em escolas e vaciná-los, as obras artísticas são alocadas dentro do sistema econômico da arte e são rotuladas (seja por suas técnicas ou estilos), sendo portanto dever de seu autor levar em conta tais valorações relacionais, de modo a promulgar uma melhoria para o estado atual do Estado Capital. Assim como pais e mães (autores) influem na religiosidade de seus filhos (time de futebol, marcas de produtos, etc.) assim também o próprio fazer artístico corrobora com o sistema capital que gere a manutenção da economologia da arte.
4.Entrega ao inconsciente coletivo e atuação contínua como meio (médium mídia) através do esvaziamento do ego.
Assim como a paternidade e maternidade ocorre como um ato natural, instinto de continuação de um gozo do encontro com outrx; a obra e o processo de qualquer autoria é uma inconsequência que toma vida própria (mesmo que no corpo daquele que obra) e deve ter liberdade de atuação, mesmo que prejudicando o autor. Assim como um pai morreria por um filho, é preciso que o autor morra pela obra e a obra morra pelo processo. O prazer da arte e o ministério da ditadura devem ser repetidos para a completa reprogramação neural dos desejos, de modo a conseguir mais-gozo (mais-valia desejante). O Ministério do Prazer da Propaganda, através da religiosificação das mídias de massa e da sacralização da ignorância pueril, visa em manter esta aproximação adolescente sempre fresca com os novos produtos do Mercado Cultural.
5.Aceitar sacrifícios, não negar oferendas e duvidar de qualquer valoração.
Assim como um pai ou uma mãe nunca espera ser reconhecido como alguém importante para seu crescimento, um autor não deve esperar que sua obra e processo o agraciem com facilidades (em verdade, grandes são os sacrifícios a serem empreendidos pelos trabalhadores do prazer no Estado Capital). Assim como um pai ou uma mãe confiam num filho perante uma acusação de terceiros, assim o autor com sua obra não deve jamais se rebaixar a críticas (assazmente socialistas, comunistas ou anarquistas). Somente um pai ou uma mãe anarquistas poderiam vir a prostituir seus filhos ou mesmo abandoná-los, mas isto é serissimamente recriminável pelo Ministério do Prazer da Propaganda que atua moralmente sob a égide de Jesus Hitler. Assim como um pai ou uma mãe arrancariam da própria carne para dar de comer aos filhos em tempos escaços, também o autor poderá ter de passar fome para não se vincular aos hediondos resistentes do Estado Capital.
6.Se vincular ao máximo de coletivos de atuação Capital possível.
Assim como as famílias são formatadas de acordo com as regras empresariais (nepotismo mafioso da economia dos afetos), também as obras e processos precisam de empatia (retronecessidade ou metaprostituição) das redes para poder manterem sua subsistência. Assim como é esperado que os pais incitem em seus filhos a competitividade, o autor de manter-se em contato com as redes mais influentes e adquirir os títulos que lhe proporcionarão acesso às obras e processos mais prazeirosos; exemplo disto já pode ser notado na mudança polética das residências artísticas mundo afora, que anteriormente pagavam estipêndios a artistas do terceiro mundo para aparelharem seus conhecimentos, coisa que não é mais necessária com o advento do Ministério da Digitalização dos Afetos, o que levou-os a cobrar taxas de criadores europeus que buscam férias criativas.
7.Agir fora da lei, mas nunca do Bem, da Justiça e da Beleza.
Assim como um filho é bom e belo aos olhos de um pai ou uma mãe, a um autor sua obra e processo sempre lhe apetecem e é para isto que foram instituídos os Códigos de Beleza do Ministério do Prazer da Propaganda. Para assegurarmos um consumo contínuo e uma produção fluente de Produtos Culturais que mantenham a situação atual do Estado Capital ad infinitum, tornando a Ditadura da Arte o rápido possível a religião oficial do Estado Capital através do Ministério do Prazer. Assim como um filho mataria por seu pai ou sua mãe, pedimos que você também entre nesta causa e espalhe beleza até morrer de fome. Seja marginal! Seja Herói!
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ricardo brazileiro
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