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Enviada em: quinta-feira, 16 de junho de 2011 12:39
Para: Cia da Farsa
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Assunto: Sinparc: que prêmio é este?
Boa tarde! Quis registrar o momento de ontem - sobre o Prêmio Sinparc, para a gente refletir. Abraços a todos, Sidneia Sinparc: que prêmio é este? Imagine a seguinte situação: você é um profissional na área em que atua, não faz lobby, vem desempenhando seu trabalho com dedicação e é indicado, por um sindicato, para receber um prêmio. Você acredita que a indicação é uma deferência ao seu empenho, sente-se reconhecido e, de posse de um convite, que dá direito a um acompanhante, decide ir à solenidade. Na porta do evento, é avisado de que não há mais lugares, que você não pode entrar. Com vários outros, também indicados, a situação é idêntica. A confusão está armada... Algumas pessoas se queixam e conseguem entrar, outros ficam do lado de fora aguardando. Os “organizadores” estão verificando se há possibilidade de cadeiras vagas, se alguém está “reservando locais com as bolsas” (segundo informações dos funcionários que estão na portaria). É anunciada a possibilidade para alguns indicados entrarem, sem o acompanhante – há quem opte por essa alternativa. Além dos indicados, existem vários outros profissionais que receberam convites e não foram avisados de que o acesso ao local estaria restrito à capacidade do teatro e também foram “barrados no baile”. Por outro lado... pôde-se observar pessoa ligada ao sindicato “colocando para dentro” alguns convidados selecionados, que, inclusive, não estavam entre os indicados. Foi, justamente, o que aconteceu no 8º Prêmio Usiminas Sinparc de Artes Cênicas realizado ontem, dia 15/6, no “Teatro do Oi Futuro Klauss Vianna”. Alguns dos indicados e convidados não tiveram acesso ao local. Uns conseguiram entrar depois de argumentar, ou seja, conseguiram convencer de que a sua presença era importante. Enquanto isso, “conhecidos” foram conduzidos para dentro do teatro. Tudo isso nos faz pensar em questões importantes da vida atual. Primeiramente, a questão do respeito ao Prêmio, que é um instituto tanto mais legítimo quanto mais ele for tratado com seriedade e ética. É comum as pessoas tratarem entidades e instituições, de caráter público ou social, como “coisas” particulares, como se eles tivessem direitos, principalmente se estão no poder ou se são “amigos” de quem está no poder. Isso ocorre, com frequência, em vários segmentos. E nós, cidadãos, aceitamos isso como se fosse normal, deixando que a situação se perpetue. É incrível como os imbuídos de algum tipo de poder não conseguem ver a situação com um pouco mais de isenção e senso de justiça – e estou falando isso de uma forma bem generalizada, não especificamente para o assunto tratado neste texto. Há sempre aqueles que se apropriam das “coisas” públicas e acham que podem falar por elas ou fazer por elas, do jeito que melhor lhes aprouver, dentro da lógica dos “amigos do rei”. Outro ponto importante é a falta de critério para se organizar um evento ou solenidade. A princípio, pode-se pensar que se trata apenas de uma “festa” - e, realmente, existe esse lado da celebração -, mas tudo é revelador. A desorganização fala por si, comunica a ideia de quem está por trás dela – alguns, pelo poder de decisão e todos nós outros, pela passividade. Não há que se falar dos critérios de seleção dos indicados e dos vencedores do Prêmio. Foi nomeada comissão de profissionais experientes para esse trabalho. Da parte dos filiados (eu não sou filiada ao sindicato e estou fazendo uma dedução, baseada nos meus conceitos a partir do relacionamento com outros sindicatos aos quais sou filiada), acredito que todos esperam que as escolhas, baseadas em critérios técnicos e de qualidade, possam contribuir para a promoção da arte e da cultura – principalmente, para o aprimoramento humano e social. Reconhecido o trabalho de um artista, há uma sinalização de que ele está no caminho certo, tornando-se, assim, uma referência para o profissional. Não ganhei o prêmio – estou certa de que outra atriz competente e merecedora tenha conseguido êxito, merecendo o reconhecimento da comissão e de toda a classe. Afinal, todos os espetáculos de 2010 passaram pelo crivo dos julgadores, o que representa um trabalho árduo. A indicação, como já tive oportunidade de dizer, já é uma deferência e representa motivo de satisfação e incremento do currículo profissional do artista – esta foi a minha terceira indicação. Tenho orgulho do meu trabalho e do meu empenho em todos esses anos (mais de 20 anos!), que já me trouxeram avaliações positivas de conhecidos e de espectadores nos vários locais em que me apresentei. Para ser “autêntica” – como diria uma das personagens que interpretei, a Clarabela Catação (“Farsa da boa preguiça”, de Ariano Suassuna), preciso admitir que hesitei entre participar ou não da premiação: um pressentimento? Talvez, tenha um pouco de medo de confetes. Deveria “ter ouvido o meu coração” como diz a sabedoria popular, que está aí para todo mundo aprender com ela. Concluindo, queria apenas deixar registrado para os meus amigos e profissionais da Arte, para quem for ler este texto, a minha ira com os fatos – se tudo foi muito bem feito até aquele momento, o evento pôs tudo a perder. Mas, como na palavra “ira” existem duas letras, “i” e “r”, que têm a força do verbo “ir”, a indicar movimento, espero que o ocorrido sirva para reflexão e novas ações – mais positivas e mais afirmativas, coerentes com o mundo novo que está nas entranhas deste que conhecemos, como disse o escritor Eduardo Galeano aos jovens manifestantes da Praça Catalunha, em Barcelona. Sidneia Simões Atriz, Jornalista e Servidora Pública |
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