escrevo com letra minúscula. costumo fazer assim. minhas frases são
pequenas como somos todos. minha voz é potente e ocupa lugar no
espaço. todos temos voz. juntos, pequenos, somos muito, muito grandes.
tenho lido TODAS as mensagens, emails, matérias... isso me conforta,
me emociona e me dá força. tento responder aqui e descrever o que
aconteceu em blumenau.
o convite
estive presente na 24ª edição do festival internacional de teatro
universitário a convite da professora pita belli. junto com meus
sócios elaboramos 4 ações do feto - festival estudantil de teatro e
uma ação do aporta - encontro estudantil de artes cênicas.
minha chegada na cidade foi no dia 12 de julho de 2011, às 2:00 da manhã.
o acontecimento
no dia 12, após assistirmos o espetáculo "trajetória \"x"\", do grupo
chia, liiaa! [direção fernando villar - unb - brasília/df], nós da
equipe da no ato cultural fomos jantar na companhia da professora ana
fabrício [faculdade de arte do paraná - fap - curitiba/pr] e por
coincidência um dos assuntos foi a porcentagem de negros no sul do
país e o trabalho feito por ela na coordenação pedagógica do festival
do teatro brasileiro, no mês de junho.
mais tarde, voltamos eu, byron o'neil e rodrigo soares ao ponto de
encontro do fitub, que acontecia no foyer do teatro carlos gomes, para
buscarmos a filmadora que havia ficado no escritório do festival.
algumas pessoas, dentre elas o professor naciso telles [universidade
federal de uberlândia]. ficamos conversando sobre participação em
redes de teatro, política pública cultural, ações do movimento nova
cena e parcerias para o ano corrente.
o ponto de encontro encerrou suas atividades e cerca de 60 pessoas se
dirigiram, após sugestão do organizador do bar do ponto de encontro,
ao posto hass [localizado à rua são paulo, próximo à prefeitura]. o
intuito foi continuar as conversas sobre teatro, ensino das artes,
intercâmbio e festivais antes de retornarmos ao hotel. era por volta
de 3:20h do dia 13 de julho. chegando no posto, ficamos longe das
bombas de combustível e ordenadamente, quem tinha necessidade,
adentrava a loja de conveniência para adquirir o que fosse de seu
desejo.
realmente acredito que 60 pessoas, mesmo sussurrando, causem barulho,
porém, não havia balbúrdia. não tínhamos instrumentos musicais, nem
equipamentos de som. o objetivo era a troca de informações e
vivências.
às 3:40h chegou uma viatura da polícia militar no posto. a viatura
estacionou de modo a obstruir a visão daqueles que se localizavam
dentro da loja de conveniência. os policiais abordaram estas pessoas
dizendo "saiam daqui bando de vagabundos" entre outras frases que não
me recordo. como atuo em em belo horizonte com movimentos populares
buscando a ocupação humanizada da cidade e por fazer parte de uma
família de militares vi que aquilo não era o correto e indaguei que a
forma estava errada, mas mesmo assim, com ajuda de outras pessoas,
fomos conversando com os convivas daquele momento afim de voltar para
o hotel. meu sócio, rodrigo soares, se aproximou e perguntou se estava
tudo bem, eu disse que sim e ele, acompanhado por byron o'neill, foram
até o interior da loja de conveniência para comprar cigarros e cerveja
para irmos embora. enquanto as pessoas se afastavam, me assentei no
meio fio da parte externa do posto para aguardá-los. ouvi um grito:
"VAZA NEGÃO!". olhei para trás e constatei que o brado era comigo.
vendo que um dos dois policias se dirigia a mim, levantei para
explicar que eu estava aguardando meus amigos. após minha resposta
ouvi: "AQUI NÃO É O SEU LUGAR! vaza negão!". após esta frase levei um
TAPA na orelha direita. ouvi um forte estampido e disse: "o que é
isso!? você me machucou!". ele: "sai daqui! aqui não é seu lugar!"
ainda me atingindo com SOCOS e CHUTES. continuei dizendo: "está
errado. você não pode fazer isto! esta não é a abordagem correta!
estou esperando meus amigos que estão na loja de conveniência!". mesmo
assim os socos e chutes continuaram.
de repente, o segundo policial gritou de onde estava, mais afastado:
"o que você está fazendo aqui?" e se dirigiu até onde tudo estava
acontecendo. inocentemente, acreditei que ele ia reconhecer a ação
absurda de seu colega de corporação. inocentemente... eu disse: "estou
esperando meus amigos". o segundo policial: "aqui não é seu lugar,
negão! sai fora! vaza!". ele deu meia volta, foi até a viatura, pegou
uma ESCOPETA, se dirigiu a mim e desferiu VÁRIOS GOLPES no peito. eu
continuava dizendo que eles estavam errados, que aquela não era a
abordagem correta. procurei a identificação dos policiais, aquela que
fica no peito, fixada com velcro, do lado do coração. vi que não
estava ali e disse: "vocês estão sem identificação! isto está
errado!". talvez isso fez com que a fúria gratuita aumentasse... fui
atingido mais e mais. quando percebi que podia ser espancado até a
morte ali, de pé, dei as costas e saí ANDANDO, quando a parte
posterior do meu corpo se tornou alvo.
me aproximei das pessoas assustadas que observavam [artistas locais,
artistas do restante do país, estudantes universitários da argentina,
do uruguai entre outras pessoas] e disse: "é isso!? vamos deixar isto
acontecer? vocês acham que eles estão certos?" mas estávamos todos
atordoados com tamanha selvageria.
meus dois sócios/amigos saíram da loja sem perceber o que havia
acontecido. indagaram os policiais pela forma da primeira abordagem.
para minha surpresa, os representantes da justiça não tiveram a mesma
reação que tiveram comigo. de longe, pedi para um deles identificar os
policiais. o rodrigo se aproximou, pegou meu aparelho celular e tirou
uma foto da placa da viatura. saímos do local em direção ao hotel,
quando liguei para o 190, para pensar na próxima ação. fui indicado a
procurar a corregedoria da polícia militar que iniciaria o atendimento
às 13:00h deste mesmo dia.
o desenrolar e as dores
ao acordar, fui procurado pela parte da equipe que não sabia do
ocorrido. contei pausadamente para não chocar meus companheiros.
ligamos para a corregedoria da polícia militar de santa catarina e
fomos indicados a procurar a tenente elisa, da corregedoria da pm de
blumenau. lá relatei o fato e identificamos os ocupantes da viatura,
que permaneceu no posto até por volta de 5:00h. fato elucidado através
do monitoramento do gps da pm. a tenente, ao reconhecer os policias,
teve uma expressão que traduzo: "é... realmente sei quem são", como
quem já conhece o histórico destas pessoas. apesar disso não revelou
os nomes. fez uma solicitação para o exame de corpo delito para o dia
seguinte, 14 de julho, às 11:00h. depois pediu sinceras desculpas e se
mostrou realmente envergonhada com a situação.
voltei para o hotel mas as dores no corpo não me deixaram descansar.
procurei um hospital particular onde, depois de vários exames, foi
marcada uma consulta com o dr. carlos neconecy para o dia seguinte, 14
de julho, às 9:00h, em caráter de urgência.
retornei para o hotel onde nós, equipe da no ato cultural, começamos a
traçar as ações que seriam realizadas no dia seguinte: 9:00h consulta
urgente, 9:30h manifestação [saindo da porta do teatro carlos gomes
até o iml], 11:00h exame de corpo delito e ampla divulgação do
ocorrido, urgentemente.
no dia 14 fiz o exame que constatou um rompimento do tímpano [50%] mas
não deu tempo de detectar a porcentagem de perda auditiva por causa do
horário. fui direto para o iml. lá fiquei sabendo que a polícia
militar não pode solicitar o corpo delito, somente a polícia civil. a
pressão da chegada de dezenas de populares e da imprensa fez com que
este protocolo fosse quebrado e o exame realizado.
o que me deixa dúvidas é: como um exame pode calcular o tempo, a
profundidade e a gravidade dos golpes somente com a localização dos
hematomas e fotos dos mesmos? porque meu ouvido não foi examinado? por
que só houve uma cópia do relatório do médico do hospital particular?
este procedimento é sempre realizado desta forma?
logo após cancelei meu retorno a belo horizonte e me dirigi à 1ª
delegacia de polícia de blumenau [polícia civil] onde fui recebido
pelo agente paulo lázaro correa. o atendimento no princípio foi o
"tradicional", infelizmente, do jeito frio que todo cidadão é recebido
quando procura este amparo. a escuta só foi mais humana, como deve ser
o atendimento a qualquer cidadão, quando simultâneamente uma matéria
foi exibida no jornal local, às 12:30h, com depoimento meu e
posicionamento do comandante da polícia militar de blumenau. por que
as coisas tem que acontecer deste jeito? a tv foi mais forte que nós,
ali, de corpo presente, explicitando todo o ocorrido.
o pedido do exame [já realizado] foi enviado via fax para o iml e o
prazo legal para termos acesso ao resultado era de aproximadamente 15
dias. a polícia teria acesso ao exame após 3 dias. eu ainda não tive
acesso ao exame e estes prazos não existiram para a polícia, que à
noite, já divulgava na imprensa o resultado.
me dirigi ao ministério público de blumenau onde fui recebido, pela
primeira vez, como qualquer cidadão deve ser atendido [com respeito,
dignidade e escuta interessada] pelo promotor flávio duarte de souza.
recebi instruções para os próximos passos.
voltando ao hotel, fui entrevistado por jornais, rádios e sites de
todo o brasil. conversei com nilmário miranda e com o movimento da
consciência negra de blumenau [veja a moção de repúdio e o ato que
acontecerá em frente à prefeitura de blumenau].
retornei à belo horizonte na manhã da sexta-feira, 15 de julho. no
mesmo dia houve apresentação do espetáculo "congresso internacional do
medo".
e agora?
as coisas estão caminhando. ainda em blumenau, conversei com muita
gente. várias pessoas, chorando, pediram perdão pela ação dos
policiais. muitas ficaram preocupadas com a imagem que eu levaria da
cidade e com a repercussão do fato.
ok. será isto legítimo? será que a preocupação é esta?
isto acontece todo dia! não só comigo, não só em blumenau! não dá pra
disfarçar, fingir que não existe! POR FAVOR!
muita gente se condói, pede desculpas, se emociona. também estou
machucado, não estou ouvindo direito, mas só sentir é POUCO. MUITO
POUCO!
a notícia se espalhou, o facebook está cheio, o twitter pula como ele
só! mas vamos agir. eu continuo agindo.
as comissões de direitos humanos [das três instâncias] estão me
ajudando. o comandante geral da polícia de santa catarina vai
acompanhar o caso pessoalmente, a furb está sendo exemplar, os meios
de comunicação estão envolvidos, os órgãos judiciais já foram
acionados, mas tenho umas perguntas:
- CIDADÃOS DE BEM NÃO PODEM ANDAR EM GRUPO DE MADRUGADA?
- É CORRETO POLICIAIS AGREDIREM UM CIDADÃO NEGRO POR NADA?
- É CORRETO POLICIAIS AGREDIREM QUALQUER CIDADÃO POR NADA?
- É COERENTE O COMANDANTE DA POLÍCIA MILITAR DE BLUMENAU DIZER AO VIVO
NUM JORNAL TANTOS ABSURDOS SEM APURAR OS FATOS E JUSTIFICAR ERROS
MEDÍOCRES DE SEUS SUBORDINADOS APENAS PARA PROTEGER A REPUTAÇÃO DA
CORPORAÇÃO?
- É LEGÍTIMO O PORTAL TERRA SE RECUSAR A PUBLICAR O ACONTECIDO SÓ
PORQUE EU NÃO QUIS ENVIAR FOTOS DOS HEMATOMAS? O QUE É MAIS IMPORTANTE
NO ACONTECIDO SENHOR EDITOR?
- É LÚCIDO O COMANDANTE DA POLÍCIA MILITAR DE BLUMENAU, NO JORNAL
NOTURNO, DIZER QUE OS POLICIAIS NÃO SERÃO AFASTADOS POR SE TRATAR DE
UM CASO QUE NÃO TEM TAMANHA GRAVIDADE, MESMO EM PODER DO EXAME DE
CORPO DELITO?
- É NATURAL UMA CIDADE ACHAR QUE A VIDA É UMA FESTA DE FAMÍLIA E SE
PREOCUPAR SOMENTE COM O VERNIZ QUE ESCONDE ALGUMAS TRAÇAS?
estas são as primeiras perguntas, outras virão à reboque. VÁRIAS. o
processo está apenas começando. fico feliz por não ser somente um
fato, uma coisa que aconteceu somente comigo. tudo isso despertou nos
habitantes de blumenau um sentido de pertencimento e reivindicação de
direitos. fatos como esse acontecem todos os dias e não podemos fingir
que não é conosco, que não nos diz respeito.
apanhei. muito. MUITO.
fiquei o tempo todo DE PÉ, de peito aberto.
acredito que cada um pode (e deve) fazer mais, denunciar mais, gritar,
ir para a rua, buscar o seu direito, exigir soluções do poder público,
do judiciário, debater as leis, enfim, SER CIDADÃO.
permaneço de pé e caminhando para que o respeito prevaleça.
por todos.
família, irmãos, amigos, negros, ruivos, latino-americanos,
argentinos, bolivianos, chilenos, japoneses, mulheres, alemães, gays,
crianças...
"o mal do urubu é achar que o boi tá morto..."
convocação - 14/07/2011
texto de byron o'neill
entrevistas e matérias:
jornal da rbs - manhã
jornal da rbs - noite
rádio nereu ramos
abpn.org
blog do nilmário 1
blog do nilmário 2
o tempo - on line
no foco
eduardo roch
j sc
portal rádio bailão
coletivo teatro da margem
contexto livre
segs
maria frô
Em 15 de julho de 2011 16:43, Magdalena Rodrigues
<mamagod@hotmail.com> escreveu:
> Prezados,
>
> Envio em anexo cartaz de divulgação para vagas do SESC Palladium, cujo
> resumo está abaixo. Peço a gentileza de divulgar e enviar para pessoas que
> possam se interessar por essas vagas, considerando que temos urgência no
> preenchimento das mesmas.
>
> Desde já agradeço a atenção.
>
>
> è ANALISTA DE ARTES E CULTURA - BELAS ARTES – necessário superior em Belas
> Artes, Artes Plásticas, Educação Artística e/ou Pós-graduação na área
> artística.
>
> è VENDEDOR (Peças de Artes) - necessário superior em andamento nos cursos
> Belas Artes, Educação Artística, Artes Plásticas, Design de Ambientes,
> Arquitetura ou afins.
>
>
>
> Cadastrar currículo no site www.sescmg.com.br - link Trabalhe Conosco.
>
>
> Atenciosamente,
>
> Claudia Vasconcelos
> Assessoria de Recursos Humanos - SESC/MG
> Tel.: (31) 3279-1521 / 3279-1522 / 3279-1523
> E-mail: claudiavasconcelos@sescmg.com.br
> Internet: www.sescmg.com.br
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> Belo Horizonte" nos Grupos do Google.Para cancelar a sua inscrição neste
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> Dúvidas? eltonmonteiros@hotmail.com ou alexzanonn@hotmail.com - Cia da Farsa
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