Cultura no centro da crise
Leonardo Brant | quinta-feira, 19 abril 2012Sem Comentários
A recente crise financeira atingiu a força centrípeta do capitalismo e colocou em xeque todos os sistemas, cartilhas e dogmas que conduzem a gestão das empresas, dos Estados democráticos e aquilo que resolvemos denominar globalização.
Embora façamos pouco caso, a cultura está no centro desse furacão avassalador. Os grandes conglomerados de mídia, cada vez maiores e concentrados nas mãos de uma minoria, definem os signos, as cores, os tons, as utopias, as verdades e as visões do futuro, mais homogêneos, ao passo que se prestam à manutenção dos mesmos códigos.
O fluxo da informação ganha novas dimensões com os recentes avanços das tecnologias de informação e comunicação. O capitalismo, que até então se apresentava como a solução para os problemas da pobreza mundial, para a construção de uma democracia participativa, para a perpetuação da espécie humana, revela-se de maneira inequívoca como o grande gerador de pobreza e da concentração de renda, patrocinador das ditaduras, devastador dos recursos naturais.
Contradições reveladas, nós nos percebemos como corruptos, desumanos, e ao mesmo tempo, instáveis, inseguros, sem saída diante da crise. Incapazes de construir novos alicerces de convivência, sob os destroços do muro de Berlim, optamos por reforçar os dogmas do capital, mesmo conscientes do alto custo disso para as gerações vindouras.
Diante disso, resta-nos apresentar algumas dimensões e valores encobertos na discussão sobre causas e efeitos da crise, diagnosticada pelos gurus da economia como uma simples falha de funcionamento de uma máquina, que apesar de consumir tanto os recursos naturais do planeta quanto a subjetividade das pessoas que o habitam, continua a ser o paradigma inabalável do desenvolvimento.
A crise financeira é, antes de qualquer coisa, uma crise ética, de valores e princípios, de convivência e de diálogo. O que nos remete à crise da arte, confinada e apropriada por sistemas de poder político e econômico. Agravadas pela crise do Estado, essas questões acabam por gerar conseqüências marcantes no mercado cultural brasileiro, talvez o setor econômico mais afetado pela crise.
*Introdução do texto “Dimensões culturais para a crise financeira“, publicado no livro “A Cultura na Crise”, pela Fundação Joaquim Nabuco, em 2010.
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