Em cartaz no shopping da Gávea.
Não é segredo para ninguém que todo casal passa por algum tipo de problema, isso é fato! Ao longo da vida conjugal, um discordará do outro nem que seja, ao menos, uma vez. O ciúme, muita das vezes, ajuda a complicar esse cotidiano, mas quando deixa de ser algo normal e torna-se doentio a situação tende a piorar gradativamente e surpresas começam a emergir. "Vexame" aborda exatamente isso, escancarando de forma quase surreal o medo da traição. E, sem perder a verossimilhança, nos entrega na bandeja um prato repleto de confusões hilariantes e possíveis verdades sobre a vida amorosa desse casal sufocado por desconfianças e crises absurdas de um noivo completamente fora do seu juízo normal.
A história do casal problemático é batida e muitas vezes transformada em comediazinhas de segunda por diversos autores desatentos que se utilizam da fórmula para criar situações bregas e enjoativas.
O texto de Wesley Marchiori cairia facilmente nessa mesma emboscada se não fosse por uma única coisa: ele consegue ser extremamente minucioso no desenrolar da trama. O autor praticamente escava cada circunstância em busca da brecha perfeita para transformar em novidade o que já foi mais do que desfrutado. Marchiori abusa do exagero e do lado grotesco do sentimentalismo, mas não se permite, nem por um segundo, que seu enredo se reduza a algo piegas ou sem graça. De forma inteligente, o texto nos transporta para um cotidiano enlouquecido, porém extremamente sincero aos olhos da figura masculina.
Inês Peixoto nos apresenta uma direção firme e extremamente pontuada, uma herança, talvez, de sua passagem bem sucedida pelo famigerado Grupo Galpão de Minas Gerais. Peca por poucas vezes ao exceder demais, utilizando-se de partes de um mesmo cenário para diferentes situações. Independente disso, consegue construir uma linguagem inovadora e, com poucos recursos, trabalha a boemia como suporte principal para a luta de um homem que tenta a todo custo provar que está sempre certo, mesmo diante de suas explícitas loucuras.
Os atores Amaury Reis e Luciana Bahia estão extremamente afinados. Conseguem segurar durante todo tempo o humor que é necessário para dar vida ao texto. Luciana se equilibra com sutileza entre a sensibilidade de uma mulher doce e a energia de alguém que está preste a explodir. Já Amaury se transforma em cena na pele do companheiro neurótico, completamente desconfiado, que vasculha desde o celular até faturas de cartão de crédito na tentativa de descobrir um ato de infidelidade. A composição de seu personagem é tão bem elaborada que, mesmo odiando suas atitudes, conseguimos perdoá-lo com facilidade.
O cenário e o figurino de Kalluh Araújo são retratados de forma básica, através de roupas do dia a dia e antigas mesas espalhadas pelo o palco. As mesas criam sensações de diferentes tipos de locações e cumpre seu papel no espetáculo que não exige muito mais do que isso.
A iluminação de Telma Fernandes chega a ser interessante, mas só consegue ganhar vida em colaboração com a maravilhosa trilha sonora criada por Eduardo Moreira. As duas alinham com arrepio as expressões de cada um dos dois personagens, nos remetendo à vida do boêmio, do sofredor, do amargurado na mesa de um bar preparado para contar sua triste historia para o primeiro que aparecer, que nesse caso é o próprio espectador.
Embora o título seja propício para as atitudes do personagem, a peça passa longe de ser um vexame. Ao invés disso causa um impacto notável e deixa uma mensagem importante para a sociedade sobre esse problema que é tão comum na vida de todos hoje em dia.
PARABÉNS AOS ATORES AMAURy REIS, LUCIANA BAHIA,
E TODA A FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
O LADO PITORESCO DO CIÚME
Não é segredo para ninguém que todo casal passa por algum tipo de problema, isso é fato! Ao longo da vida conjugal, um discordará do outro nem que seja, ao menos, uma vez. O ciúme, muita das vezes, ajuda a complicar esse cotidiano, mas quando deixa de ser algo normal e torna-se doentio a situação tende a piorar gradativamente e surpresas começam a emergir. "Vexame" aborda exatamente isso, escancarando de forma quase surreal o medo da traição. E, sem perder a verossimilhança, nos entrega na bandeja um prato repleto de confusões hilariantes e possíveis verdades sobre a vida amorosa desse casal sufocado por desconfianças e crises absurdas de um noivo completamente fora do seu juízo normal.
A história do casal problemático é batida e muitas vezes transformada em comediazinhas de segunda por diversos autores desatentos que se utilizam da fórmula para criar situações bregas e enjoativas.
O texto de Wesley Marchiori cairia facilmente nessa mesma emboscada se não fosse por uma única coisa: ele consegue ser extremamente minucioso no desenrolar da trama. O autor praticamente escava cada circunstância em busca da brecha perfeita para transformar em novidade o que já foi mais do que desfrutado. Marchiori abusa do exagero e do lado grotesco do sentimentalismo, mas não se permite, nem por um segundo, que seu enredo se reduza a algo piegas ou sem graça. De forma inteligente, o texto nos transporta para um cotidiano enlouquecido, porém extremamente sincero aos olhos da figura masculina.
Inês Peixoto nos apresenta uma direção firme e extremamente pontuada, uma herança, talvez, de sua passagem bem sucedida pelo famigerado Grupo Galpão de Minas Gerais. Peca por poucas vezes ao exceder demais, utilizando-se de partes de um mesmo cenário para diferentes situações. Independente disso, consegue construir uma linguagem inovadora e, com poucos recursos, trabalha a boemia como suporte principal para a luta de um homem que tenta a todo custo provar que está sempre certo, mesmo diante de suas explícitas loucuras.
Os atores Amaury Reis e Luciana Bahia estão extremamente afinados. Conseguem segurar durante todo tempo o humor que é necessário para dar vida ao texto. Luciana se equilibra com sutileza entre a sensibilidade de uma mulher doce e a energia de alguém que está preste a explodir. Já Amaury se transforma em cena na pele do companheiro neurótico, completamente desconfiado, que vasculha desde o celular até faturas de cartão de crédito na tentativa de descobrir um ato de infidelidade. A composição de seu personagem é tão bem elaborada que, mesmo odiando suas atitudes, conseguimos perdoá-lo com facilidade.
O cenário e o figurino de Kalluh Araújo são retratados de forma básica, através de roupas do dia a dia e antigas mesas espalhadas pelo o palco. As mesas criam sensações de diferentes tipos de locações e cumpre seu papel no espetáculo que não exige muito mais do que isso.
A iluminação de Telma Fernandes chega a ser interessante, mas só consegue ganhar vida em colaboração com a maravilhosa trilha sonora criada por Eduardo Moreira. As duas alinham com arrepio as expressões de cada um dos dois personagens, nos remetendo à vida do boêmio, do sofredor, do amargurado na mesa de um bar preparado para contar sua triste historia para o primeiro que aparecer, que nesse caso é o próprio espectador.
Embora o título seja propício para as atitudes do personagem, a peça passa longe de ser um vexame. Ao invés disso causa um impacto notável e deixa uma mensagem importante para a sociedade sobre esse problema que é tão comum na vida de todos hoje em dia.
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