Por Daniel Lima
Divertido, crítico e apaixonante. O espetáculo Amor de Salto Alto desvenda o misterioso universo feminino com um roteiro crítico e bem humorado, mas, antes de tudo, é uma bela história de amor.
Dentro do quarto, Sandra balança como se fosse criança... Balançar é estar livre, é não ter que seguir regras, é sentir o vento batendo no rosto sem se preocupar com o que vem antes ou depois... Balançar é como viver um grande amor... Mas Sandra, aos 28 anos, balança sozinha.
O roteiro original da atriz Verônica Tannure apresenta, de maneira corajosa e sem rodeios, os conflitos vividos por toda mulher para seguir os padrões pré-concebidos como modelo de beleza. Ao receber um convite para um encontro amoroso, Sandra se depara com todo o processo pré-encontro: a depilação, a escolha da lingerie, maquiagem, fazer as unhas, cuidar dos cabelos, a escolha do vestido e, claro, dos sapatos. E não se engane em pensar que estas situações são clichês para uma comédia boba e vazia, pois, Verônica consegue entreter o expectador nas situações mais hilárias que a personagem vivencia, ao mesmo tempo em que dá o tom das críticas acerca do modo como as relações estão se constituindo, da frieza e falta de compreensão dos homens e das cobranças sociais no que diz respeito ao modo como a mulher deve se comportar em relação ao parceiro.
Neurótica, estranha e engraçada, Sandra supera seus desencontros amorosos fazendo terapia, tomando variados tipos de florais e desabafando pelas janelas de seu apartamento, falando ao microfone, para que os homens possam entender o que as mulheres realmente querem e como eles devem tratá-las.
O roteiro ainda tem espaço para a visão masculina. Do seu apartamento, Thiago Felipe, vivido por Bernard Bravo, ouve os desabafos de Sandra e decide bater a sua porta para mostrar que os homens não são todos iguais. É neste despretensioso encontro que se desenrola a parte romântica do espetáculo e Sandra encontra em Thiago vários motivos para não mais balançar sozinha.
Amor de Salto Alto é, sem dúvidas, um espetáculo para mulheres, embora a produção não o defina assim. Elas se divertem com as desventuras de Sandra, sentindo-se parte da peça: a resposta do público é imediata e o espetáculo mantém uma deliciosa interação entre os que estão na platéia e os atores. Mas, claro, também é uma excelente oportunidade de diversão e reflexão para os homens.
Tecnicamente, os atores estão muito bem em cena. Verônica faz boa parte do espetáculo como um monólogo e esbanja sua versatilidade: canta, dança e nos faz viajar nos conflitos de Sandra como se fossem dela mesma, sem contar que é dela a autoria do texto e a responsabilidade por toda a produção da peça. Tannure conseguiu reunir um grande time e entregar ao público um produto de qualidade, isso sem nenhum incentivo fiscal. O sucesso do resultado não tem nenhuma fórmula mágica, é fruto de muito trabalho e da reunião de parceiros mais interessados na construção de um bom espetáculo, do que propriamente no lucro.
Bernard Bravo, acostumado com espetáculos infantis (inclusive estreia o musical infantil A Menina e o Vento, no dia 21 de setembro, em BH), parece não ter receio de se entregar a uma proposta de trabalho. Se lhe falta experiência em espetáculos adultos, a entrega e boa desenvoltura em cena demonstram que, embora ainda pouco conhecido, Bravo tem tudo para trilhar um belo caminho de destaque no cenário cultural mineiro.
Há de se destacar também o excelente trabalho corporal realizado por Douglas Gonzales, principalmente nas cenas finais da peça, e o cenário de Jordan Baêsso, diferente e fora dos padrões cercados por paredes, como se vê na maioria das peças que se passam em apartamentos.
Quem assina a direção do espetáculo é Guilherme Colina – fez sua estreia como diretor na peça Navalha na Carne, de Plínio Marcos, onde também atuava. Sem medo da desconfiança dos críticos, por ser um diretor jovem, Colina encontrou – e que fique claro que é mesmo uma opinião – o tom certo para as abordagens que o roteiro traz: ora mais agressivo, ora moderado, encorajando a atriz a colocar a opinião do roteiro original, sem medo de como as pessoas possam reagir. Destaque para a belíssima cena onde os personagens se amam: sem nenhum apelo sexual, mas com a devida entrega para convencer.
Amor de Salto Alto segue em temporada durante os meses de setembro e outubro em dois teatros da capital mineira:
10, 11, 12 de setembro
Teatro da Maçonaria – Av. Brasil 478, Santa Efigênia.
Horário: 21:00 horas.
4, 5, 6, 11, 12, 13, 18, 19 e 20 de Outubro
Teatro Assembléia – Rua Rodrigues Caldas 30, Santo Agostinho.
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