Reunindo em seu elenco e equipe apenas pessoas que já participaram de edições anteriores do projeto, o espetáculo ENSAIO DE MENTIRA ou o último ensaio para dizer a verdade é, antes de tudo, uma celebração à vida e a arte. Sob direção de Chico Pelúcio e Lydia Del Picchia, que voltam a conduzir uma edição deste projeto, a montagem marca também o reencontro com o dramaturgo Luis Alberto de Abreu, que presta colaboração dramatúrgica para o espetáculo. Abreu já havia participado da décima edição do projeto, assinando a dramaturgia de Lúdico Circo da Memória (Oficinão 2007).
ENSAIO DE MENTIRA nasce do desejo de se investigar as relações entre vida e arte, criadores e criaturas, realidade e ficção. O processo de criação priorizou um mergulho em temas importantes e urgentes para cada um de seus integrantes. O que move o artista? O que move o indivíduo enquanto artista? O que queremos dizer? Como e a quem queremos dizer? Em cena, o último ensaio de um cabaré decadente, antes da chegada do público. Questões íntimas e pessoais de cada personagem os fazem continuar ali, se apresentando nesse show e resistindo às intempéries deste ambiente. Verdades e mentiras permeiam o discurso de cada um, numa fusão entre as vozes do indivíduo e do personagem. A ausência de coxias no palco e a cenografia aparentemente inacabada desmascaram os bastidores desse ensaio e tornam ainda mais tênue a linha que distingue o que é encenação e o que é real. As imagens projetadas são resultado de uma câmera que tenta multiplicar a simultaneidade dos acontecimentos e informações, próprios dos dias atuais. Já não sabemos se é um simples making off ou um Big Brother. Colorindo essa aparente precariedade e indefinição, a música executada e cantada ao vivo pelos atores, emoldura os números do cabaré, alentando as dores e alegrias dos personagens.
Em junho, deu-se início ao processo de criação deste espetáculo, um encontro onde fora proposto começar do zero, de uma folha em branco. A partir de desejos individuais dos atores, de provocações da direção, dramaturgia e colaboradores, cenas foram sendo erguidas e, jogando com improvisações, desejos e caminhos foram revelados, objetivando, principalmente, extrair deste encontro de seres humanos a direção que melhor os representasse.
Assim, o espetáculo traz consigo profundas marcas de uma experiência real do processo, que de tão forte contaminou de forma decisiva seu resultado na ficção. Selecionado para integrar esse elenco, o ator José Maria Mendes faleceu durante o processo de montagem, aos 75 anos. Esse encontro deixou marcas que interferiram incisivamente nos rumos da criação do espetáculo que, direta ou indiretamente, abriga a presença deste “jovem” ator entre nós.
CAIO OTTA |
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