De: Patricia Manata <patmanata@gmail.com>
Data: 12 de dezembro de 2015 18:57
Assunto: [movimento-MATRACA-mg] Mensagem de Bernardo Matta Machado
Para: movimento-matraca-mg@googlegroups.com
Amigos e amigas,
Hoje faz uma semana desde que fui exonerado do cargo de secretário adjunto de cultura do Estado de Minas Gerais. Até aqui permaneci em silêncio, a fim de dar serenidade à mente e ao coração, que ficam conturbados diante desses reveses da vida. Fiquei calado também para refletir melhor sobre o que me aconteceu. Agora, já mais calmo, posso falar.
Antes de tudo, quero agradecer, e MUITO, as manifestações de solidariedade que vieram de várias pessoas e lugares de Minas e do Brasil. Nesses momentos difíceis é reconfortante saber que nossa trajetória é vista com tanto respeito. Que todos fiquem sabendo: a solidariedade de vocês ajudou meu espírito a recompor-se e por isso serei sempre grato.
Lendo as mensagens, tendo a concordar com os dois Robertos, o Peixe e o Lima: o pragmatismo (para ganhar e manter-se no poder) suplantou os ideais e valores que fundaram o PT. Por isso fui exonerado. Construir políticas públicas de cultura caráter estruturante e de longo prazo não serve às conveniências do momento (leia-se: ganhar as eleições de 2016 no maior número possível de municípios).
No entanto, penso que essa falha não é só nossa.O sistema político, partidário e eleitoral brasileiro tem uma grande parcela de culpa por tudo isso que estamos vivendo hoje no país.A opção eleitoral (que considero correta em face da alternativa revolucionária) por si só faz com que os partidos políticos caminhem para o centro do espectro ideológico. Para conquistar os eleitores é conveniente abandonar bandeiras extremas, que agradam a uns poucos, mas afastam a maioria.
Esse fator, que é proprio da democracia (e talvez seja um dos seus defeitos), no Brasil é agravado por dois outros: o sistema de financiamento das eleições, dominado pelo poder econômico, e a permissão de coligações partidárias nas eleições proporcionais (para vereadores e deputados estaduais e federais).
Para sustentar campanhas cada vez mais caras, os partidos sujeitam-se aos donos do capital, que financiam oposição e situação na expectativa de que tudo fique como sempre esteve. Mudanças, só aquelas que não amecem o status quo. Por isso vejo com esperança a decisão histórica tomada esse ano pelo STF, proibindo o financiamento das eleições por pessoas jurídicas. Sei que é ilusão achar que com isso tudo vai ficar "limpo" de uma hora para outra, mas com certeza irá minimizar o problema.
A coligação nas eleições proporcionais permite tantas distorções que é possível votar num comunista e eleger um evangélico, ou vice-versa. E ainda estimula a proliferação de pequenos partidos, que se grudam nos grandes como parasitas, a fim de eleger uns poucos parlamentares, Tudo isso resulta na diluição da identidade ideológica dos partidos, fator que só aumenta a confusão e o descrédito dos eleitores. Quando a coligação se dá nas eleições majoritárias, o resultado é a repartição do poder entre vários partidos.Isso dificulta a coordenação da gestão pública e afeta a estabilidade política, sujeita à permanente chantagem dos partidos coligados, que na busca de ampliar sua parcela de poder ameaçam o partido lider da coligação de abandonar a base de apoio do governo nas casas legislativas.
Sei que todos esses fatores não eximem nem atenuam os desvios de um partido que nasceu pregando a igualdade, a democracia e a ética na política, mas sei também que esses valores ainda não estão de todo sepultados. O desvio ético sem dúvida foi crucial para a deterioração do PT e a consequente perda de credibilidade do partido, mas acredito que tudo o que foi deteriorado por mãos humanas pode ser por elas restaurado. Não será uma tarefa fácil; exigirá muita perseverança e autocrítica.
Eu continuarei perseverando, e como cidadão e filiado manterei meu apoio aos governos liderados pelo PT no plano nacional e também estadual.E como funcionário público continuarei a prestar serviços ao Estado e à sociedade, com base no que aprendi a fazer: gestão e política cultural, pesquisa histórica e social, análise e estratégias políticas e, quem sabe, também como ator (embora tenha largado o teatro, ele ainda não me largou).
É isso meus amigos e amigas. Certamente nos encontraremos nas esquinas da vida, espero que em momentos mais felizes. Abs, di
Bernardo.
PS: na minha ignorância não copiei o endereços eletrônicos guardados no meu computador de trabalho. Por isso peço que enviem essa mensagem aos amigos e amigas comuns para que possa chegar a todos os que se solidarizaram comigo. E de novo, MUITO OBRIGADO.
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